#454-460

#454

- Hummm...

Foi o que conseguiu dizer.

Lucas Beça

#455

O vivo e gentil assaltante apontou polidamente a arma ao transeunte:

- Oi, quero explicar-lhe umas coisas tim-tim por tim-tim, mas só por telefone. Pode dar-me o seu?

- Claro, eis aqui, pode levá-lo.

Magno R. Andrade

#456

Desde criança é um estraga prazeres. Começou quando entrou no quarto dos pais que transavam. Quando adulto, tornou-se serviçal de quarto de motel.

Gustavo do Carmo

#457

DISSONÂNCIA

Era um discípulo disciplinado, mas um tanto displicente.

Certa vez, estava distraído e não entendeu o que o mestre disse.

Nasceu daí uma discordância. Tornou-se um dissidente.

Hoje diz que, do mestre, quer distância.

Marcos Mairton

#458

Escorregou entre as mentiras.

Lucas Beça

#459

Era valentão e mui temido na favela. Uma dia, quando correu a notícia de que iam invadir uma área de terra, chegou atrasado, não achou mais espaço. Expulsou uns quatro, fez o maior barraco. 

Magno R. Andrade

#460

Reclamava por ter seus contos rejeitados. Quando cobrou satisfações de um editor, este lhe mostrou o que tinha lido: djdjajbgisjbg digisigsib...

Gustavo do Carmo

#447-453

#447 Magno R. Andrade

Perdoar é divino, mas os fiéis não perdoam o padre que lhes tirou o coro.

Magno R. Andrade

#448

Briga de marido e mulher. Ele meteu a colher. No sorvete que tinha esquecido na mesa onde o casal estava. Pediu licença e deixou os dois brigando.

Gustavo do Carmo

#449

CAUSA E EFEITO

Dizia-se um ás no jogo da vida.

Como não passava de um blefe, acabou abandonado como um dois de paus.

Inspirado em microcontos do Gustavo do Carmo

Marcos Mairton

#450

- Olá! Tudo bem!?!

Lucas Beça

#451

DIÁLOGO NO MAR

- Senhorita, és linda! Pareces uma sereia...

- Sereia ainda não o sou, mas serei-a.

Magno R. Andrade

#452

Prometia se separar do marido para assumir seu romance e casar com o amante. Tarde demais. Quando ela conseguiu o divórcio, ele arrumou uma noiva de verdade.

Gustavo do Carmo

#453

XAROPE

- Você agora vai ver o que é bom pra tosse - disse a mãe ao filho, enquanto misturava o mel ao suco de limão.

Marcos Mairton

#440-446

#440

— Não gostei nada do que você escreveu sobre mim no seu conto. — E eu também não gostei nada do que você fez comigo! Como é que fica?

Gustavo do Carmo

#441

PERIGO

Estava no fio da navalha. Mas nem percebeu.

A formiga seguiu adiante, passou pelo cabo da navalha e ficou andando pela pia.

Marcos Mairton

#442

Deu adeus. Voltou.

Lucas Beça

#443

O pescador não sabia se o rubi achado era falso ou não. Era o que estava na boca do polvo.

Magno R. Andrade

#444

— Lá de cima ele está mandando muita luz para a gente. Disse a jovem, sem saber que ela é a primeira da lista negra que o seu ex-colega de faculdade deixou quando se suicidou.

Gustavo do Carmo

#445

OCIOSIDADE

- E o que você vai fazer depois que se aposentar?

- Nada.

- Será que você se acostuma?

- Por que não? Me acostumei a trabalhar na sua empresa.

Marcos Mairton

#446

- Acabou o leite cigarro.

Lucas Beça

#433-439

#433

O PRIMEIRO PASSO

Da porta de casa o homem olhava a rua.

Demorou horas até dar o passo que faria dele um andarilho.

Marcos Mairton

#434

Autorretratos pregados, narcisistas.

Lucas Beça

#435

Era um exímio contador de histórias. Quando lhe nasceu um filho, acalentava-o com um conto de fraldas.

Magno R. Andrade

#436

Precisou colocar a cabeça no lugar. Mas teve tantas tarefas para fazer que o membro acabou perecendo e o corpo continuou decapitado.

Gustavo do Carmo

#437

ORDINAIS

Segundo terceiros, viajou na manhã da quinta, mas primeiro arrumou o quarto.

Marcos Mairton

#438

Furou o pneu. Abandonou o carro. Não quis nem saber.

Lucas Beça

#439

Não tinha dinheiro. Fraudou a loja para levar escondido uma dúzia de fraldas.

Magno R. Andrade

#432

Quando criança, contou para a mãe que viu um homem vermelhinho de tanto comer o bife de fígado que ela lhe obrigava. Acreditou no filho quando viu um norueguês queimado de sol, mas continuou lhe obrigando a comer a carne, para ele ficar tão forte quanto o norueguês.

#431

Sepultado o “de cujus”, os sucessores entraram em luta pelo patrimônio virtual deixado. Arrolou-se uma fazenda inventada. Arrolou-se um prédio residencial inventado. Arrolou-se uma aeronave inventada. Com todos esses bens inventados, encerrou-se o inventário.

#430

Nacional. Patriota. Desiludido.

#429

DESDE CEDO

É de manhã. Comerciantes ainda abrem as portas de seus estabelecimentos.

A par disso, o andarilho já percorreu alguns quilômetros de solidão.

#428

Atirou no que viu (a testemunha do seu assalto) e acertou no que não viu (o cego que passava na rua na hora do tiro e morreu de bala perdida).

#427

Na festinha de aniversário, as crianças estavam curiosamente tímidas. Para animá-las, a mãe da aniversariante mostrou-lhes o bolo e lhes disse:

- Quem não tiver medo, que enfie nele o primeiro dedo.

Assim comeram o bolo mais cedo.  

#426

Chutou. Marcou. Não foi suficiente.

#425

OLVIDO SELECTIVO

Era um argentino que gostava de rock, mas ouvia de tudo. Depois, lembrava de umas coisas e esquecia outras.

(Em homenagem a Andrés Calamaro).

#424

— Eles vão acabar se matando. Disse a mãe, preocupada com as brigas dos filhos. A profecia se cumpriu. Os dois irmãos se suicidaram ao mesmo tempo.